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18.2.09

Assis Valente




Nesse ano de comemoração do aniversário de Carmen Miranda (que é maravilhosa) não me sai da cabeça a figura de Assis VAlente, um dos compositores mas gravados pela cantora. Talentoso e criativo é autor de lindas e divertidas canções, com a cara e a alma do povo brasileiro. É autor inclusive da mais bela música de natal, Boas Festas.

Tentou o suicídio três vezes e na última conseguiu por fim à vida, tomando veneno. Alguns acreditam que a homossexualidade reprimida colaborou com a vontade de por fim à própria existência.
Veja a biografia do compositor, retirada do Wikipedia:

José de Assis Valente (Santo Amaro, 19 de março de 1911 — Rio de Janeiro, 6 de março de 1958) foi um compositor brasileiro, levado ao suicídio por dívidas. Dentre suas composições mais famosas está “Brasil Pandeiro”

Biografia atribulada
Era filho de José de Assis Valente e D. Maria Esteves Valente. Segundo relatava, tinha sido roubado aos pais, ainda pequeno, sendo depois entregue a uma família Santoamarense, que lhe deu educação, ao tempo em que o iniciou no trabalho, algo extenuante.
Já aos dez anos de idade revelava-se admirador de grandes poetas, como Castro Alves e Guerra Junqueiro, cujos versos declamava, encantando aos que ouviam. Por essa idade segue com um circo mambembe, até que finalmente radicou-se em Salvador, onde faz-se aluno do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, aprendendo também a confeccionar dentaduras.

Em 1927 muda para o Rio, onde se emprega como protético e consegue publicar alguns desenhos. Na década de 30 compõe seus primeiros sambas, bastante incentivado por Heitor dos Prazeres.
Muitas de suas composições alcançam o sucesso, nas vozes de grandes intérpretes da época, como Carmem Miranda, Orlando Silva, Altamiro Carrilho e muitos outros. Sua admiração por Carmem fê-lo até procurar aprender a tocar, pensando que o professor fosse pai adotivo da cantora - o que não procedia. A paixão não impediu que para ela compusesse várias canções, sempre presentes em seus discos.
Graças a uma dívida cobrada por Elvira Pagã, que lhe cantara alguns sucessos, junto com a irmã, tenta o suicídio pela primeira vez, cortando os pulsos.

Casou-se, em 23 de dezembro de 1939, com Nadyli da Silva Santos. Em 1941 (13 de maio) havia tentado o suicídio mais uma vez, saltando do Corcovado – tentativa frustrada por haver a queda sido amortecida pelas árvores.
Em 1942 nasce sua única filha, Nara Nadyli, e separa-se da esposa.

O suicídio
Desesperado com as dívidas, Assis Valente vai ao escritório de direitos autorais, na esperança de conseguir dinheiro. Ali só consegue um calmante. Telefona aos empregados, instruindo-os no caso de sua morte, e depois para dois amigos, comunicando sua decisão.

Sentando-se num banco de rua, ingere formicida, deixando no bolso um bilhete à polícia, onde pedia ao também compositor e amigo Ary Barroso que lho pagasse dois alugueres em atraso. Morria às seis horas da tarde. No bilhete, o último "verso":
"Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo."

Composição e poética
Seu trabalho foi um dos mais profícuos da música, constando que chegava a compor quase uma canção por dia – muitas delas vendidas a baixos preços para outros, que então figuravam como autores.
Seu primeiro sucesso, ainda de 1932, foi “Tem Francesa no Morro”, cantando por Aracy Cortes.

Foi autor, também, de peças para o Teatro de revista, como Rei Momo na Guerra, de 1943, em parceria com Freire Júnior[1].
Após sua morte, foi sendo esquecido, para ser finalmente redescoberto nos anos 60, nas vozes de grandes intérpretes da MPB, como Chico Buarque, Maria Bethânia, Novos Baianos, Elis Regina, Adriana Calcanhoto, etc.

Suas canções foram muitas vezes regravadas, mesmo depois de sua morte, atingindo sucessivas gerações, no Brasil. Suas composições trazem um conteúdo poético, que buscam emocionar, algumas com um teor mais reflexivo. Alguns exemplos:

Boas festas

Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem


Brasil pandeiro

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
Eu fui à Penha e pedi à padroeira para me ajudar
Salve o Morro do Vintém, pendura a saia que eu quero ver
Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar
O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato
Vai entrar no cuscuz, acarajé e abará
Na Casa Branca já dançou a batucada de Ioiô e Iaiá
Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar
Há quem cambe diferente, noutras terras, outra gente
Um batuque de matar
Batucada, reuni vossos valores, pastorinhas e cantores
Expressões que não tem par, oh meu Brasil, Brasil
Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar


Camisa listada

Vestiu uma camisa listada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu Parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: "sossega leão, sossega leão!"
Tirou o seu anel de doutor para não dar o que falar
E saiu dizendo eu quero mamar, mamãe eu quero mamar
Mamãe eu quero mamar
Levava o canivete no cinto e o pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: "sossega leão, sossega leão!"
Levou meu saco de água quente pra faze chupeta
Tirou minha cortina de veludo pra fazer uma saia
Abriu o guarda-roupa e apanhou minha combinação
E até do cabo de vassoura ele fez um estandarte para o seu cordão
E agora que a batucada já vai começando
Não quero e não consinto meu querido debochar de mim
Porque se ele pega as minhas coisas vai dar o que falar
Se fantasia de Antonieta e vai dançar no Bola Preta
Até o sol raiar


E o mundo não se acabou

Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disto a minha gente lá em casa começou a rezar
Até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disto nesta noite lá no morro não se fez batucada

Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei a boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou

Peguei um gajo com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Ih, vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou



Mais um pouco sobre Assis Valente em: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1511671-EI6621,00-Assis+Valente+um+esquecido+classico+da+musica.html

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